21 de novembro: Apresentação de Nossa Senhora no Templo
A Apresentação é a festa estabelecida pela Santa Igreja para consagrar a memória de um solene acontecimento na vida de Maria Santíssima, sendo Ela ainda criança.
Uma tradição constante, cuja origem remonta aos primeiros tempos do Cristianismo, nos informa que a Virgem Santíssima, aos três anos de idade, foi apresentada ao Templo de Jerusalém, onde se consagrou em corpo e alma ao Senhor .(1).
O Oriente foi o primeiro a celebrar tal festa, como atesta um tópico da constituição do Imperador Manuel Commeno, em 1143. Dois séculos mais tarde tal comemoração passou ao Ocidente. O Papa Gregório XI introduziu-a no calendário romano, por volta de 1373.
A festa da Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria no Templo, além de celebrar esse episódio da vida de Nossa Senhora, visa recordar também todo o período que vai desde seu nascimento até a Anunciação do Anjo. Ao celebrá-la, a Igreja visa iluminar, tanto quanto possível, o silêncio existente na Sagrada Escritura a propósito do primeiro período da vida de Maria Santíssima.
Dotada da plenitude de suas faculdades, Nossa Senhora fez a Deus voto de castidade, tendo sido a primeira a portar esse sagrado estandarte, sob o qual se alistaram depois legiões de virgens.
Os judeus costumavam consagrar seus filhos ao serviço do Templo e fazer educar as meninas à sombra tutelar do sagrado edifício.
Tendo sabido Maria que seu pai e sua mãe -- Joaquim e Ana, cujos nomes significam respectivamente preparação do Senhor e graça -- fiéis a tão venerável costume, haviam prometido ao Senhor, ao pedir-Lhe um filho, que Lho ofereceriam, adiantou-se ao seu desejo e quis Ela mesma consagrar-se ao Senhor. E foi a primeira a lhes suplicar que cumprissem sua promessa. "Ana não vacilou, afirma São Gregório de Nissa, em aceder ao seu desejo; levou-A ao Templo, e A ofereceu ao Senhor".
Legiões de Anjos acompanham Maria Santíssima de Nazaré a Jerusalém
Vejamos como Ana e Joaquim fizeram a Deus o oferecimento d’Aquela que mais amavam no mundo. Saíram de Nazaré para Jerusalém, levando nos braços sua querida filha, que era muita pequena para enfrentar as fadigas de uma viagem de trinta léguas.
Associou-se a eles um reduzido número de parentes. "Porém os Anjos, diz São Gregório de Nicomédia, seguiam-nos e acompanhavam em numerosa coorte à terna e pura Virgem, que ia oferecer-se no altar do Senhor".
Quando os santos viajantes chegaram ao Templo, Maria Santíssima voltou-se para seu pai e sua mãe, osculou suas mãos, pediu-lhes a bênção e, sem vacilar um instante, subiu ao santuário.
Exemplo para nós: devemos cumprir o dever para com Deus sem delongas e com entusiasmo, recordando-nos daquela frase da Escritura: "Maldito o que faz a obra do Senhor com negligência" (Jer. 48, 10).
O próprio Deus celebrou aquele dia memorável em que viu entrar no Templo sua casta Esposa, porque nunca se havia apresentado uma criatura tão pura e tão santa (2).
Modelo de filha, esposa, mãe, viúva e sobretudo de virgem
Maria Santíssima apresenta-se sempre como modelo de mulher cristã.
Como filha, ensina o meio de conservar seu mais belo ornato: a inocência.
Como esposa, obedece, ora, trabalha e cala. José decide e Maria parte para Belém, para o Egito, para Nazaré, para Jerusalém. Mansidão, obediência, trabalho, oração e silêncio, eis os exemplos que dá.
Como mãe, Maria ensina à mulher o meio de cumprir o mais sagrado de seus deveres, zelando por seu Filho desde o Presépio até a Cruz. Que as mães católicas nunca abandonem a educação dos que farão sua felicidade ou sua desgraça.
Ainda como mãe, Nossa Senhora ensina à mulher como deve sofrer. Ela ofereceu seu Filho a Deus, consentindo de antemão nos tormentos do Calvário e em presenciar, ao pé da Cruz, a agonia de Jesus. As mães católicas têm em Maria Santíssima o modelo de como devem aceitar os sofrimentos que a Providência consente em lhes mandar, na sua condição de mães: com mansidão, em silêncio, e oferecendo-os continuamente a Deus.
Como viúva, Maria ensina o grande segredo da vida recolhida: as virtudes domésticas, os salutares conselhos, as orações mais longas e as boas obras, tanto mais meritórias ante Deus quanto feitas com mais amor e mais ocultas à vista humana. Eis o exemplo que a Virgem Santíssima proporciona às senhoras que são viúvas.
Porém, pairando acima das condições anteriores, concomitante com todas elas, está sua condição de virgem, imaculada desde a Sua concepção. E não é por acaso que na Ladainha Lauretana a invocação Sancta Virgo Virginum vem logo após a invocação Sancta Dei Genitrix,como a dizer que não poderia ser Mãe de Deus quem não fosse a Virgem das Virgens.
Foi a virgindade de Maria Santíssima que suscitou a vocação em milhões de moças, em toda a história da Igreja, para se oferecerem a Deus como virgens, formando inúmeras congregações e ordens religiosas, para orar, trabalhar, lutar e sofrer enquanto virgens. E quantas não houve, que para defender sua virgindade, não hesitaram em sofrer o martírio! A graça e a fortaleza para praticar tal heroísmo lhes vinha da sublime virgindade da Mãe de Deus.
Culto a Maria Santíssima favorecido, com milagres, por Deus
O culto a Nossa Senhora irradia na sociedade certo encanto e graça indefiníveis que dilatam o coração.
Com efeito, a mais doce, amável e pura das Virgens, designada também como sendo "terrível como um exército em ordem de batalha" e que esmaga a cabeça da serpente infernal, forma seus verdadeiros devotos à sua semelhança.
Assim são eles capazes das preces mais doces, mais filiais e mais ardorosas a Maria Santíssima; porém, ao mesmo tempo, são de uma firmeza inabalável nos princípios e uma combatividade incansável. Por exemplo, um São Bernardo -- o Doutor Melífluo --, grande pregador das Cruzadas.
Tanto nas atribulações quanto nas alegrias, devemos louvar Aquela que o Divino Redentor nos deu como Mãe, não A perdendo de vista um só instante.
Para isso foram compostos os hinos, cânticos e ladainhas em que se prodigalizam a Maria os mais belos títulos. E também executaram-se milhares de obras de arte inspiradas pelo culto da Rainha dos Anjos, da Mãe de Deus e dos homens.
Percorramos, por exemplo, a Europa inteira. Detenhamo-nos ante as magníficas catedrais e perguntemos o que, de modo especial, as fez brotar do solo com seus maravilhosos vitrais e imponentes torres. Levantar-se-á, então, uma voz das pedras, da tradição e dos anais dos povos para nos responder: o culto a Maria! Sim, foi esse culto que adornou o mundo católico com tantas belas igrejas, imponentes catedrais, suntuosas abadias, austeros conventos, recolhidos mosteiros, graciosas capelas e acolhedores hospitais.
De seu lado, o próprio Deus teve o cuidado de justificar, autorizar e incentivar o culto a Maria com grandes milagres e feitos prodigiosos. Estes últimos são tantos que seria longa tarefa querer enumerá-los todos aqui. Limitamo-nos a mencionar apenas dois.
Um deles foi a vitória obtida pelos católicos comandados pelo rei João Sobieski, da Polônia, para libertar Viena, que se encontrava sitiada pelos maometanos (1683). Tal vitória deu origem à festa em honra do Santíssimo Nome de Maria (vide epígrafe Destaque da presente edição).
Também a célebre batalha de Lepanto constituiu uma prova magnífica da proteção da Mãe de Deus em favor dos que A invocam confiantemente.
Encontrava-se a Cristandade seriamente ameaçada pelo avanço muçulmano. A situação chegou a um ponto crítico e as forças católicas -- em menor número do que os muçulmanos -- enfrentaram os inimigos da Santa Igreja, no histórico dia 7 de outubro de 1571, no golfo que deu origem ao nome daquela famosa batalha.
O Papa da época, o grande São Pio V, recebeu, por uma intervenção sobrenatural, a revelação da vitória no mesmo instante em que esta foi alcançada. O Santo Padre estava tão persuadido de que o triunfo de Lepanto fora obtido mediante a proteção particular da Virgem Santíssima, que instituiu a festa de Nossa Senhora da Vitória, a qual seu sucessor Gregório XIII fixou no dia 7 de outubro, sob o título de festa do Santíssimo Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria.
Pelo mesmo motivo, São Pio V acrescentou na Ladainha Lauretana a invocação Auxilium Christianorum, ora pro nobis. Auxílio dos Cristãos, rogai por nós! Esta jaculatória, sobretudo em nossos conturbados dias, deve vir freqüentemente aos nossos lábios. E assim como a Auxiliadora dos Cristãos não deixou de atender aos católicos em Lepanto, igualmente Ela não negará seu poderoso auxílio a cada um de seus autênticos devotos! (3)
Notas:
1) Cfr. escritos São Gregório de Nissa, São João Damasceno, Santo André de Creta e São Gregório de Nicomédia -- veja Bento XIV, p. 532, e Canísio, lib. I, cap. 12, apud Catecismo de Perseveranciacitado na nota 3.
2) Bernardin. de Busto, Marian. p. 4, serm. I.
3) O presente artigo foi escrito com base nos comentários do conceituado autor francês do século passado Mons. J. Gaume, em sua obra Catecismo de Perseverancia, tomo VIII, Librería Religiosa, Barcelona, 1857. Também foram utilizados como fonte de referência o Nuovo Dizionario di Mariologia (preparado sob os cuidados de Stefano de Flores e Salvatore Meo, Edizioni San Paolo, Turim, 4ª ed., 1996) e a obra Physionomies de Saints, de Ernest Hello (Perrin, Paris, 1900).